Shorin Ryu – O estilo do Shaolin do Norte
Prezados leitores.
É uma honra fazer parte desse grupo, portanto, compartilho com vocês um pouco da história do Estilo Shorin-ryu de Karatê, da nossa escola Shin Shu Kan do Glorioso Mestre Yoshihide Shinzato, Hanshi 10° Dan.
A origem da denominação
Shorin-ryu é um estilo de Karate-Do que combina técnicas marciais provenientes da China com elementos advindos de estilos de luta tradicionais de Okinawa. Shorin é a pronúncia okinawana da palavra Shaolin – monastério budista localizado na província chinesa de Henan –, e que significa pequeno bosque. Considerando que Ryu significa “estilo”, a tradução para Shorin-ryu é “estilo do pequeno bosque”, uma homenagem ao monastério chinês.
As origens do estilo
No século XV, os três reinos de Okinawa (Hokuzan, Chuzan e Nanzan) se tornaram um único reinado, sob a dinastia Sho. Nesse período – mais especificamente em 1477 – , o rei Sho Shin proibiu a população de portar armas. Nessa época, eram praticadas em Okinawa diversas técnicas marciais, entre elas o To-te (mãos chinesas) – também denominada Okinawa-te (mãos de Okinawa) – um estilo de defesa pessoal que usava chutes e socos e que tinha suas raízes em práticas marciais chinesas, e o Ryukyu kobu-do (caminho das antigas artes marciais), a utilização de instrumentos agrícolas tradicionais das ilhas do arquipélago de Ryukyu como armas. Essas técnicas marciais foram ensinadas em segredo por muitas décadas e disseminadas por várias gerações de aprendizes. A partir do século XVIII, diversas variantes do To-te desenvolveram-se em três localidades de Okinawa: o Naha-Te, na aldeia de Naha, o Shuri-Te, na região de Shuri e o Tomari-Te, no vilarejo de Tomari. Ou seja, As “mãos chinesas”, foram tornando-se “mãos de Okinawa” e, com o passar do tempo, foram ganhando características próprias às localidades onde eram praticadas. Uma dessas variantes – o Shuri-Te, dará origem ao estilo Shorin.
A linhagem dos mestres da Shorin-ryu
O mestre Matsumura Sokon (1800 – 1890) – que era discípulo de Sakugawa Kanga (1733 – 1815) – é reconhecido como um dos principais sintetizadores do Shuri-te, amalgamando conhecimentos das práticas marciais chinesas com as técnicas okinawanas, após diversas viagens que realizou à China, dando origem ao estilo Shorin. Um dos principais alunos de Matsumura foi Anko Itosu (1831 – 1915), General Supremo do Reino de Ryukyu, quando este foi anexado ao Japão, em 1879. É atribuído ao Mestre Itosu o treinamento com makiwara (palha enrolada), para calejar as mãos e os pés, potencializando os golpes, assim como seu trabalho para tornar a prática marcial acessível às crianças, com a introdução dos primeiros kihons (básico, fundamental) e da criação dos kata (forma) Naihanchi (avançando por dentro) Shodan, Nahanchi Nidan e Nahanchi Sandan. Na verdade estes kata são uma divisão de um kata muito extenso denominado Naihanchi, criado pelo seu mestre Matsumura. Itosu também teve o mérito de particionar (e adaptar) os dois Kata Kusanku (criados por Sakukawa, mestre de seu mestre) em cinco kata menores, batizando-os de Pinan (mente tranquila): Pinan Shodan, Pinan Nidan, Pinan Sandan, Pinan Yondan e Pinan Godan. Em 1933, um discípulo de Itosu, Choshin Chibana (1885 – 1969) foi quem escolheu denominar de Shorin-ryu o estilo marcial que aprendera com seu mestre, como uma homenagem às raízes chinesas, do monastério de Shaolin, e também como forma de diferenciá-lo de outros estilos que estavam sendo desenvolvidos por discípulos que se afastavam dos ensinamentos originais de Itosu. Em 1957, Chibana recebeu o título de hanshi (grão-mestre) da Dai Nippon Butoku Kai, criada em 1895, em Kyoto, pelo governo imperial com o objetivo de promover e padronizar as artes marciais no Japão. Em 1968 recebeu do Imperador Hirohito o título de comendador, por serviços prestados ao país. Após a morte de Chibana, o título de grão-mestre da escola Shorin-ryu coube ao seu discípulo Katsuya Miyahira (1918 – 2010). Sensei Miyahira foi o autor da renomeação dos dois kata Passai (invadir a fortaleza): Passai Sho passou a ser denominado Itosu no Passai (em homenagem ao mestre Itosu) e o antigo Passai Dai passou tornou-se Matsumura no Passai (o Passai de Matsumura).
Shorin-ryu no Brasil
A difusão do estilo Shorin no Brasil se deve ao empenho do mestre okinawano Yoshihide Shinzato (Haebaru, 15/3/1927 – Santos, 13/1/2008). Sensei Shinzato, Hanshi (grão-mestre), 10º Dan de Karatê e 9º Dan de Kobu-do, após sua chegada ao Brasil (em 15 de janeiro de 1954), começa a ensinar Karatê-Do aos membros da colônia japonesa. Em 1954, na cerimônia de inauguração do Parque Ibirapuera em São Paulo faz demonstrações de Karatê e Kobu-do, abertas ao público, contribuindo para a difusão da nossa nobre arte marcial. Em 1962 fundou seu primeiro Dojô, em Santos, a Academia Santista de Karatê-Do que, em 1965. viria a se chamar Associação Okinawa Shorin-ryu Karatê-Do do Brasil. Em 1967, sensei Shinzato fundou uma organização nacional, a União Shorin-ryu Karatê-Do do Brasil, que contribui, mesmo após a passagem do mestre, para a difusão do Karatê da escola Shorin-ryu, agora sob a liderança do mestre Masahiro Shinzato, 9º Dan, seu filho primogênito.
Jorge Claro
Faixa preta 2° Dan, Karatê Shorin-ryu – Shin Shu Kan – Jingui Kan Mogi das Cruzes.
Fontes bibliográficas:
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